INTERFACES – CONSTRUINDO UMA CULTURA AUDIOVISUAL DEMOCRÁTICA
A transição da era da película para a era do digital.
O novo momento para a preservação audiovisual.
Novas tecnologias, quebra de paradigmas.
Quais diretrizes e estratégias que se impõem no momento em que o volume de produção audiovisual aumenta e a obsolescência se torna cada vez mais rápida?
A construção de um documento digital tornou-se um dos maiores desafios para a manutenção dos arquivos audiovisuais em um futuro muito próximo. Como manter a tecnologia acessória funcionando para todas as gerações de uma obra audiovisual?
A 7ª CINEOP – Mostra de Cinema de Ouro Preto vai investigar os desdobramentos dessas premissas e discutir os desafios que se apresentam para o futuro, onde de um lado o atendimento das demandas de acesso eletrônico ao passado e ao presente audiovisual só farão crescer, e de outro a passagem necessária a um mundo de preservação virtual enfrentará questionamentos técnicos, financeiros, éticos e políticos igualmente crescentes. A velocidade e escala de um tal processo cria toda uma nova pauta de temas e discussões. Dadas as características geográficas e sócio-culturais de um país como o Brasil, em pleno florescimento econômico e inserção na cultura da era digital, como criar uma estratégia global de conversão e difusão, como sustentar migrações por obsolescência, como financiar tais processos, como formar e qualificar profissionais capacitados a tais exigências técnicas, como certificar os resultados alcançados? As respostas permanecem em grande parte obscuras, demonstrando o atraso da reflexão e da ação entre nós.
Só recentemente a preservação foi defendida como parte integrante da cadeia produtiva do audiovisual. A iniciativa conceitual e política foi do homem de cinema Gustavo Dahl. Sua trajetória como artista e gestor forneceu-lhe a experiência necessária para compreender os erros e desatinos de uma área que freqüentou diretamente no início e no fim de sua vida pública, mas que acompanhou com carinho e paixão ao longo de toda a carreira. Com a elegância e entusiasmo costumeiros apoiou os esforços de criação da ABPA -Associação Brasileira de Preservação Audiovisual, vendo nela um promissor instrumento de ação, seja para o desenho de uma política de preservação, seja para a aproximação de um conjunto antes distante e disperso de instituições de guarda audiovisual. Para ele, os novos tempos exigiam novas posturas em uma área por demais debitária dos velhos hábitos do passado.
Um país continental não tem opção senão o trabalho conjunto, em rede, aberto às conexões e interfaces fornecidas por novos modelos e estratégias de intervenção na realidade. Ao refúgio nas malhas da autocracia e da tecnoburocracia contrapôs em sua breve gestão à frente do Centro Técnico Audiovisual a abertura ao diálogo, ao aprendizado, à troca democrática de pontos de vista, colocando-se sempre à disposição para liderar, mediar e fazer crescer o setor, a sociedade e o próprio país. Homem viajado, sabia dos diagnósticos em prol do esforço coletivo – como ocorreu em tempos recentes na pequena Suíça com o Memoriav – e das dificuldades entranhadas na sociedade e na máquina pública brasileiras sob a forma do personalismo, do mandonismo, do centralismo e muitas outras mazelas que escondem as velhas formas de exercer o poder. Lutava contra isso, procurando manter o espírito crítico e livre e sustentar a contestação ao status quo iníquo.
A proposta da 7ª CINEOP – Mostra de Cinema de Ouro Preto é dar continuidade a este impulso e à ética que o impulsionou, atuando mais uma vez comofórum colaborativo e trazendo a contribuição de todos para o debate e ação necessários à transformação da preservação audiovisual em mais um campo de Cultura Democrática.
Hernani Heffner
Curador – Temática Preservação
HOMENAGENS
Gustavo Dahl (in memorian)
Roberto Farias
Reginaldo Faria