Esse é o foco luminoso que inspira as edições anuais da CineOP – Mostra de Cinema de Ouro Preto, fórum dedicado à preservação audiovisual em diálogo com a educação e em intercâmbio com o mundo.
Em sua nova edição, tem como eixo temático a discussão do conceito e práticas de redes que se constituem hoje um suporte que amplia as possibilidades de acesso, encontro, intercâmbio e, ao mesmo tempo, um espaço de produção e divulgação que aspira constituir uma grande comunidade, onde nenhum tipo de diferença impeça as interconexões por afinidades e interesses.
Os desafios políticos, econômicos, tecnológicos e educacionais que cercam a preservação audiovisual em suas múltiplas dimensões, a proposição de entidades associativas visando à cooperação institucional, troca de informações, formação de alianças táticas e práticas, preparação de pessoal e trabalho cultural, têm sido uma constante nos diferentes campos em torno do cinema e do audiovisual e dão o tom da programação da 9ª CineOP, que congrega profissionais e instituições dos vários segmentos que trabalham com a imagem em movimento e com cinema e educação.
Cooperar é um caminho para o “cinema patrimônio”, certamente não o único, e certamente não aquele que funcione apenas como escudo, rótulo, fachada, ideal. História, Educação e Preservação não precisam ser mundos separados, por exemplo, e a partir desta nona edição, se mesclarão cada vez mais. Filmes e artistas não são apenas “materiais” a preservar, podem revelar, desistir, conversar, ensinar, perecer, aprender, resistir, assim como pedagogos de todas as classes e preservadores de todos os tipos e formações. Podemos discutir as obras de artistas como Luiz Rosemberg Filho, homenageado deste ano, e discuti-las com o próprio, sob os mais variados pontos de vista, como o da invisibilidade cultural, que o exclui de um circuito artístico, mas também educativo, e que faz de suas matrizes algo pouco considerado em termos de preservação.
Podemos também ultrapassar as barreiras invisíveis da maior parte dos espaços sociais, mostrando filmes de “arquivo”, pouco conhecidos, incompletos, quase destruídos, como parte integrante de nossa cultura, de nossa história, de nosso trabalho. Algo que em princípio não mobiliza, não rende matérias de jornal, não forma, mas quem decide isso? Os profissionais ou um público mais amplo? Nesta CineOP, os públicos poderão decidir sobre o que não é comum, padronizado, feito para consumo dos pares ou da mídia. E os professores, educadores, pedagogos, passadores, os que sabem conversar e sabem ouvir, não discutirão apenas princípios, metodologias, instrumentos, mas poderão questionar e ser questionados quanto ao mundo audiovisual que rodeia a todos.
FORMAÇÃO DE REDES
Este é o conceito geral que irá nortear os debates, diretrizes, encontros da 9ª CineOP.
O conceito de rede atravessa diferentes áreas de saberes e práticas e sua polissemia explica em parte sua versatilidade e, ao mesmo tempo, uma especial dificuldade para conceituá-la, embora todos sejamos partes de diferentes conjuntos de redes.
Desde a mitologia, encontramos o conceito de rede relativo ao imaginário da tecelagem e do labirinto e, na Antiguidade, ela foi associada à metáfora do organismo, embora fosse utilizada predominantemente em relação aos tecidos, rendas e tramas têxtis até o século XVII. Por semelhança com o aparelho sanguíneo e as fibras que compõem o corpo humano, a medicina se apropria desse conceito e até o fim do século XVIII ficará quase restrito à linguagem médica. A virada para o século XIX está determinada pela “saída” do corpo na mineralogia, nas representações geométricas do território, na matemática e na filosofia (MUSSO, 2013).
Hoje, as redes nos permitem democratizar o acesso ao conhecimento encurtando distâncias e alterando as assimetrias de apropriação e reprodução dos saberes e práticas, especialmente em um país de tamanho continental, como é o Brasil. O acesso ao cinema e às experiências de cinema através das redes também é uma hipótese cada vez mais verificável. Mas para isso, algumas condições básicas se tornam indispensáveis, tais como uma efetiva conexão a baixo custo e de qualidade que alcance todo o território nacional, como promete o Programa Nacional de Banda Larga, que prevê a conexão em 40 milhões de domicílios 4.283 municípios até 2014 e a desoneração de smartphones, como política de inclusão digital.
O conceito de rede superou o fato histórico da emergência das novas tecnologias para se tornar um modo de estar e se relacionar que configura o mundo e os processos de subjetivação. As redes constituem hoje um suporte que amplia as possibilidades de acesso, encontro, intercâmbio e, ao mesmo tempo, um espaço de produção e divulgação que aspira constituir uma grande comunidade, onde nenhum tipo de diferença impeça as interconexões por afinidades e interesses.
Como são as experiências brasileiras em torno do conceito e da nova realidade das redes?
Esta e outras questões dão a tônica das temáticas preservação e educação da 9ª CineOP, que de 28 de maio a 02 de junho, reunirá no centro dos debates mais de 50 profissionais do audiovisual, da preservação e educação para discutir as interfaces das redes – um convite à reflexão, à investigação e à cooperação
A programação está formatada em homenagens, exibições de filmes em pré-estreias nacionais e retrospectivas, debates, seminário, Encontro Nacional de Arquivos, Encontro da Educação:Fórum da Rede Kino, oficinas, programa Cine-Expressão, Mostrinha, Cortejo, Exposição, Lançamento de Livros, Shows e atrações artísticas.
HOMENAGENS
Cosme Alves Netto (in memoriam) – Temática Preservação
Ricardo Miranda (in memoriam) – Temática Histórica
Luiz Rosemberg Filho – Temática Histórica
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Temática Preservação – Hernani Heffner
Temática Histórica – Cleber Eduardo
Temática Educação – Adriana Fresquet
Seleção de longas contemporâneos – Francis Vogner dos Reis
Seleção de médias e curtas contemporâneos – Francis Vogner dos Reis e Pedro Maciel Guimarães
Coordenação Geral – Raquel Hallak