ENTREVISTA COM UM ARTISTA COMPLETO

Por Bernardo Oliveira

Do alto dos seus 93 anos, Tony Tornado impressiona pelo vigor físico e intelectual, pela consciência de sua trajetória e dos seus feitos, pela força penetrante de sua palavra e pela firmeza da memória. Mas sobretudo pela sua generosidade e gentileza em conceder uma conversa conosco sobre as mais de oito décadas de trabalho artístico. Nascido no Mirante do Paranapanema no dia 26 de maio de 1930, Tornado –apelido criado pelo produtor fonográfico Mariozinho Rocha –viajou pelo mundo afora, foi caftan respeitado no Harlem dos anos 60, onde conheceu Tim Maia e Stokely Camichael, cantou e lançou discos com a banda de Ed Lincoln, entre outras proezas. Foi um dos grandes responsáveis pela introdução do soul e do funk no país, criando uma forma abrasileirada de apresentar esses gêneros: “É, realmente havia a necessidade de abrasileirar, de criar uma linguagem brasileira”, comenta ele lembrando a vitória no Festival Internacional da Canção de 1970. Na época, cantou “BR-3” ao lado do Trio Ternura, levando a canção de Antônio Adolfo e Tibério Gaspar ao prêmio máximo. Após a vitória, lançou dois álbuns que se tornaram clássicos da música popular do Brasil, tornou-se prolífico ator de cinema e de televisão, além de dublador, emprestando sua voz ao célebre Kojak. Hoje é possível dizer que Tony Tornado se firma na cultura brasileira e mundial como um dos grandes expoentes da arte do país, uma das principais referências culturais, políticas e artísticas desse Brasil contemporâneo que luta para afirmar sua herança e sua identificação com a cultura do continente africano. A homenagem da CineOP vem a calhar e em boa hora. A entrevista que se segue foi feita com o objetivo de revisitar os episódios mais importantes da trajetória desse artista completo.

P: Muito prazer, Tony! Fale um pouco das suas origens.

T:  Meu nome é Antônio Viana Gomes, com o nome artístico de Tony Tornado. Nasci no dia 26 de maio de 1930, numa cidadezinha chamada Mirante do Paranapanema, no Oeste de São Paulo. Só para o pessoal se situar: o Rio Paranapanema é o que dá água para São Paulo. Antigamente, chamava-se Itororó. Lembram do “Eu fui no Itororó, beber água e não achei…?”. Pois é, esse era o nome da minha cidade, que hoje se chama Mirante do Paranapanema. Saí de lá aos 12 anos, com a intenção de vencer na vida. Desculpem os que lá ficaram, mas eu achava a cidade muito pequena para mim. E, então, saí de São Paulo. Saí da minha cidade e fui para São Paulo, para o centro de São Paulo, começar a vida. Eu tinha vontade de ser paraquedista;mas,em São Paulo, não tinha escola de paraquedismo; apenas no Rio de Janeiro. Cheguei ao Rio com 16 anos.Meu pai se chamava Ray Anthony Washington Peterson e era de Georgetown, Guianas Inglesas. Meu pai fugiu para Macapá, até chegar a São Paulo, onde conheceu a primeira “vítima”: a minha mãe. Estou falando “a primeira vítima”, porque ele já casou cinco vezes!

P: Como era a vida desse jovem negro no Mirante do Paranapanema?O contato com a música e o cinema?

T: De Mirante, eu fugi. Parece aqueles filmes de Mazzaropi… Peguei um bornal, botei lá um pão duro, rapadura, algumas coisas para me manter durante a viagem. Mas já estava com a ideia de vencer na música. Porque o meu problema desejo sempre foi a música. Aliás, problema não; a minha solução sempre foi a música. E sempre corri atrás dela. Foi isso que me tirou daquela cidade, de onde fugi porque não havia qualquer condição de fazer alio trabalho que eu tinha em mente. Por isso é que eu fugi. Com muito pesar, aliás, de ter deixado os meus pais para trás. Eu precisava de liberdade para expandir tudo o que estava sentindo. E vim para o Rio de Janeiro, exatamente por causa de música. E juntei a isso a necessidade de servir ao Exército, porque sabia que era no Exército que eu ia construir um homem de verdade, com todos os deveres, com toda a formação de homem. A música me trouxe muita coisa e me livrou de algumas coisas que poderiam, eventualmente, acontecer. Estive envolvido em muitos outros problemas, em que a música é que me colocou, mas eu estou realizado realmente é com a música.

Cheguei ao Rio de Janeiro sem pai, sem mãe, sem nada, tentando vencer. Porque é difícil vencer no Rio. Você tem que aprender a conviver com a cidade. Ela não aceita desafios de alguém que queira vencê-la. Tive, então, que compactuar com tudo que tem na cidade. Não tinha alguém por mim aqui. Dormi no trem, vendia balas, duas a 500réis, amendoim, figurinha, até acabar a noite. Tinha um moço, o sr. Diogo, ali do lado da Central do Brasil, onde eu pegava amendoim para vender.

Sempre fui muito ligado à música. Foi por causa dela que saí da minha cidade. Toda vez que chegava um espetáculo, já naquela época, queria subir ao palco, cantar e dançar. E me chamavam de maluco. Estamos falando de 70, 80 anos atrás. Hoje não; hoje, está tudo bem. Mas eu paguei pelo vanguardismo. Porque já estava bem à frente. Vim para a cidade grande e para o Exército. Aos 18 anos, me apresentei àEscola de Paraquedistas, mas disseram que eu ainda era muito jovem e frágil; tinha muita altura, mas não tinha físico suficiente. Fiquei até os 19, em 1949, quando fui incorporado aos paraquedistas. No Exército, me formei com uma pessoa chamada Abravanel Santos, vulgo Sílvio Santos; fomos colegas no Exército. Temos, inclusive, a mesma idade. A diferença é que ele ficou muito rico e eu continuei na mesma. Mas tenho um amor e carinho muito grande por ele. A vida seguiu e eu segui em frente.

Me fixei no Rio de Janeiro, que passou a ser a minha cidade, aliás passou a ser “a minha pátria”. Porque tudo girava em torno do Rio de Janeiro e a minha vida era no Rio de Janeiro. Então, fui à Europa com um grupo folclórico chamado Brasiliana, dirigido por Miécio Askanasy. Foi a primeira viagem que fiz como Miécio. Fui escolhido em meio a mais de 300e não sei quantos candidatos. O engraçado é que ele mandava a gente mostrar os dentes, feito cavalo, um negócio muito estranho. Vinha o próximo e ele mandava: “Mostra os dentes. Faltam dois, não serve. Vem outro” – ele ordenava. E ia chamando assim. Mais tarde, descobri que essa coisa dos dentes era para a hora da apoteose. Eu tocava pandeiro e tinha que estar com os dentes prontos para sorrir para a apoteose do show, ficar bonito no palco. Tomei consciência disso e, ao mesmo tempo, comecei a estudar. Isso, claro, saiu caro, tive uns problemas nos anos 1960, em plena ditadura.Sofri repressões, fui convidado a sair do país. Foi quando conheci muitos países. Fui para o Uruguai, depois me mandaram para a Tchecoslováquia, para a Rússia, Alemanha, alguns países escandinavos, os chamados Países Baixos, Angola, fui para a França… Não que eu tivesse dinheiro, mas o chamado “Bloco Socialista” bancava tudo. Na verdade, eu era um prisioneiro, só não tinha as grades na frente.Me acusaram de algumas coisas, que eu estava tentando fazer uma revolução negra no país, e não era verdade. Mandaram alguns comunistas embora e me colocaram no pacote. Eu nunca fui comunista. Só que, naquela época, havia no Rio um movimento chamado Black Rio e me colocaram como um dos cabeças. Era apenas forma de entretenimento. Mas era uma aglutinação grande de negros, pelo tipo de música que a gente apresentava. Daí, disseram que eu estava querendo implantar aqui o movimento Black Panther norte-americano.

P: Como foi chegar em Nova Yorknos anos 1960?

T: Foram quatro anos e meio, cinco anos… creio que cinco anos. Cheguei a Nova York fugido do grupo Brasiliana, porque tínhamos um contrato de dois em dois anos. Venceu meu tempo, queriam me mandar de volta para o Brasil.Fugi mais uma vez, agora para Nova York. Fui para o Harlem, no Centro de Nova York, no Harlem North. E lá tinha que sobreviver de alguma forma. Me envolvi em alguns episódios não muito bonitos, mas era, então, a única forma de eu sobreviver. No Brasil,tem o cara que mantém mulheres na rua, trabalhando comocafetão. Ser cafetão era uma profissão nos EUA dessa época. Necessariamente, não precisava ser bandido. Como nunca fui bandido, só protegia as meninas que trabalhavam. Eu estava ilegal no país, meu visto já tinha vencido, trabalhava numcarwash, no centro do Harlem, para fugir da Imigração. Tinha um registro nesselavajato, mas eu só ia lá quando chegava alguém da imigração.Botava o uniforme e começava a lavar carros. Fora isso, era cafetão, que tomava conta das meninas,procurava o bem-estar de todas. E todo mundo falava: “Lá vem o Comfort” – que era o meu apelido. O Comfort era um cara respeitado, fiquei muito respeitado no bairro. Tive que fazer um trabalho de base, porque era um bairro altamente marginalizado. Tinha umas vantagens, porque falava espanhol e poderia conversar com os chicanos. Na época, negros e chicanos não se davam bem.Daí me chamavam: “Manda o Comfort, que ele fala espanhol, ele é brasileiro, ele é sul-americano!”. E eu ia lá e conversava com os caras. Fiz essa ponte para algumas pessoas do Harlem, fiquei conhecido.

Nesse ínterim, conheci o Sebastião Rodrigues Maia. Me chamaram e disseram: “Tem um cara pegado lá na delegacia, com alguns probleminhas e tal”. Cheguei lá e era o Tim Maia! Eu não conhecia o Tim. Mas só em ele falar: “Eu sou brasileiro, sou da Tijuca, estou envolvido aqui…”, eu comecei a fazer um trabalho para tirá-lo da cadeia, porque já tinha um certo conceito, conhecia os policiais. Paguei a fiança dele e ficamos muito amigos lá nos Estados Unidos. Tempos depois é que nos reencontramos aqui. Mas foi lá que conheci Tim Maia, uma pessoa maravilhosa. Fui com ele até o fim. Fui, inclusive, no último espetáculo, na UFF, em Niterói; praticamente eu o vi morrer. Sebastião Rodrigues Maia. Ninguém jamais pode esquecer esse nome. O que ele fez para o movimento de soul music no Brasil… E o considero o maior expoente. Falam que o Tony Tornado é isso e aquilo, mas não. Teve, antes, uma pessoa chamada Tim Maia, o principal causador do movimento soul music no Brasil: Sebastião Rodrigues Maia.

P: Você chegou a conhecer o Stokely Carmichael?

Conheci Stokely Carmichael em Nova York. Na época, era marido da Miriam Makeba. Aprendi muito com ele. Aliás, esse meu gesto de “Meu Deus!”, era o Carmichael que dizia: “My People!”. Achei bonito aquele chamamento e usei no festival. As pessoas estranharam. Porque na época a maioria dos cantores eram todos muito contidos. E chega um cara com essa abertura, essa alegria, expansivo, grande, diria até monstruoso. O Stokely me ensinou muita coisa. A seriedade do fato e a integração do negro na vida social, a integração do negro em todos os momentos da vida, aprendi isso com ele. Tive umas lições que me valeram muito na vida. Algumas que resultaram de atitudes precipitadas, que me trouxeram amarguras, até me feriram, mas me serviram como lição para a vida.

Não quero cuspir no prato em que comi, todos vocês sabem que sou um funcionário da Rede Globo, uma emissora eminentemente branca. E eu consigo sobreviver até hoje, mas com integridade, sou uma pessoa justa. Vi muita coisa lá, porque a emissora tem as suas necessidades. Mas o público desculpa, porque também tem um pouco de culpa; colocaram o louro de olhos azuis como protótipo da beleza! Eu não sou nem louro, nem tenho olhos azuis. Mas tenho hombridade, sou sincero, honesto e negro sim, senhor!

P: Conte a experiência de trazer o funk e a soul music para o Brasil de uma maneira tão característica, abrasileirada, como você diz.

T: Realmente, havia a necessidade de abrasileirar. Nunca poderia ser um James Brown puro, por exemplo. Não poderia nunca ser um puro Wilson Pickett, não poderia nunca ser um Sly&The Family Stone puro, tal como outros expoentes da soul music. Tínhamos que criar uma linguagem brasileira, movimentos brasileiros.O Harlem é um bairro estritamente musical, um bairro que vive de música. Cansei de ir ao Apollo Theater e passar noites e dias. Porque o teatro nunca fechava, na época everyday, every morning, every afternoon… Não fechava.Dava uma paradinha para tirar as beatinhas do chão e o espetáculo continuava. E sempre foi assim. Ali, assisti a muitos expoentes da música, ao vivo: Ray Charles, Little Richard –que eu considero como rei do rock, entre outros. Ao vivo e em cores! Músicos maravilhosos, vindos de outros espetáculos e bandas, chegavam ao Apollo Theater com seus instrumentos e diziam a eles: “Tonight. Sobe no palco e ataca”. Vi muitos espetáculos assim, era uma coisa maravilhosa. O Harlem, o Apollo Theater, tudo isso é história na minha vida.

P: Eaí você se torna Johnny Bradfort!Como foi a experiência com Ed Lincoln?

T: Isso: Johnny Bradfort! O Ed Lincoln precisava de um cantor… Ele já tinha o Orlandivo e precisava de um cantor de música americana, de música negra americana. Aí, me acharam no subúrbio, eu morava em Oswaldo Cruz [Bairro da Zona Norte do Rio] e me apresentaram ao Ed Lincoln. Fiquei muito amigo dele. Que músico maravilhoso! Ed me deu muita força. Comecei a colocar aqui tudo o que eu tinha aprendido lá fora. No Harlem, qualquer criança que você vê na rua está dançando ou cantando. Camelô vendendo caneta, lápis, gravata, cantando soul. Quer dizer: um bairro musical. E nunca fiz espetáculo nos EUA, não tinha a menor condição diante de todos aqueles talentos maravilhosos, de rua, inclusive. Mas fui armazenando aquelas informações… Pensei: “Vou usar isso no Brasil. Só que tem que fazer um outro floreado”. Foi aí que nasceu a soul music brasileira. Posso citar Cassiano (que é o Deus maior), Tim Maia, Carlos Dafé, Gerson King Combo… Tem algumas pessoas da soul music brasileira que, infelizmente, já nos deixaram; mas o registro está feito.

P: Aí pintou a “BR-3”…

A “BR-3”!Eu trabalhava numa boate em Copacabana e contaram ao Antônio Adolfo e ao Tibério Gaspar que havia um negro meio americanizado que cantava numa boate. E eles foram lá me ver. Eu fazia alguns minutos com a Dolores Duranno Beco das Garrafas. E eu fazia esses 20 minutos, enquanto ela descansava. Ela com o Sérgio Mendes. Eu fazia meus 20minutos com música norte-americana, dançava, abria espacate no chão… Era a atração da casa, mas mero desconhecido. Até que fui para o Ed Lincoln. Com Ed, comecei a fazer os bailes no subúrbio e a mostrar a arte de dançar, que eu tinha aprendido nos Estados Unidos. Uma coisa bem “americanoide” mesmo. E as pessoas gostaram, foi muito legal. Fiquei muito lisonjeado, até com o título que me deram, de lançador do movimento. Mas não fui eu quem começou; eu fiz um trabalho de continuidade, de massificação e abrasileiramento. E tenho muito orgulho de ter feito isso.

Tem coisas na “BR-3”. Primeiro, ela foi criticada porque as autoridades achavam que “BR-3” queria dizer a terceira veia onde as pessoas se aplicavam [drogas]. Que loucura! E diziam que “o Jesus Cristo feito em aço” [um trecho da letra da música] era a agulha. Como? “Não” –eu dizia para o milico que foi lá: “Não, a BR-3 é a Rio-Belo Horizonte”, que existe até hoje. Hoje, se chama BR-040. E “Jesus Cristo feito em aço”, que vocês falam que é agulha, está lá na entrada de Juiz de Fora, até hoje. Vocês nunca prestaram atenção. Isso é uma poesia. “BR-3” é uma coisa séria, é a estrada da vida. E não me acusem de querer falar de tóxico com o Tony Tornado, porque eu vivi no meio do tóxico e não fumo nem cigarro Continental. Eu sou careta, sou muito careta. Porque aprendi, mesmo quando vendia drogas, que o melhor comerciante é o que não fuma. Vi muita gente cair na minha frente, doido, maluco e eu ficava olhando, mas não podia fazer nada, porque eu estava só vendendo. Eu não fumo, nunca fumei. E vou fazer aqui uma declaração pública: nunca bebi cerveja! Nunca bebi cerveja, não bebo, não fumo, não jogo… Mais um pouco e eu levitava!

E a “BR-3” foi um sucesso. E zebra. Por quê? Meus concorrentes eram “fracos”: Tom Jobim, Vinícius de Moraes, Milton Nascimento, Taiguara… Claro que eu fui zebra, imagina! Olha com quem eu estava concorrendo. Acontece que eu estava apresentando uma coisa nova. A “BR-3” e toda aquela complexidade: o intérprete, a música, a dança… O intérprete, principalmente, desculpe a imodéstia, era diferente. Era um puta de um negão, com uma porra de um cabelo desse tamanho. Era uma época em que negro alisava o cabelo para ficar igual ao Nat King Cole. O meu era desse tamanho. Poxa, cara! Eu não usava a camisa “Volta ao mundo”, com a gravatinha aqui, não! Era peito nu. E eu tinha um sol no peito. Era tudo muito novo. E o povo estava ávido de coisa nova. E cheguei com uma coisa nova. Eu não canto bem, jamais tive a pretensão de cantar mais do que o Milton, do que todas aquelas pessoas, imagina… Acontece que eu estava apresentando uma novidade. E foi isso que chamou a atenção do público e fez com que eu vencesse o V Festival Internacional da Canção. Isso ninguém me tira. E a humildade me impede de dizer que, na oportunidade, fui eleito o melhor do mundo. Porque era um festival internacional da canção: cada país mandou um representante. E eu venci. Agora, tenho consciência que fui uma zebra. Uma tremenda de uma zebra. Porque só tinha fera! Quando o Hilton Gomes anunciou: “E agora, música nº 19: “BR-3”, intérprete, Tony Tornado e Trio Ternura”, deu um branco no Maracanãzinho. Olha, estou falando de 40 mil pessoas! Começou a música e ninguém sabia o que era. As fotos e os filmes estão por aí para provar. Começou a aparecer o tampo da minha cabeça. Que até chegar na minha cabeça demorava muito, porque o cabelo era muito grande, e foi pegando cabelo, cabelo, cabelo, e a figura foi aparecendo, aparecendo, aparecendo, até que passou pelo peito aqui, aquele sol desse tamanho aqui brilhando, e as pessoas impactadas:

— “O que que é isso? O que é que é isso?”

Para você ter uma ideia do impacto, quiseram me desclassificar, acharam que eu era gringo. Eu estava representando o Brasil e falaram:

— “Não, ele não pode, ele é gringo.”

– “Não, ele não é gringo, é brasileiro e muito brasileiro.”

Acontece que eu tinha muito o tipo de negão norte-americano. Inclusive, usei frases em inglês. Aí, finalmente, chegaram à conclusão de que eu era mesmo brasileiro, graças a Deus. E eu fiquei com o cetro de vencedor do V Festival Internacional da Canção. A “BR-3” é uma coisa muito linda! Antônio Adolfo e Tibério Gaspar foram de uma felicidade… Me escolheram porque já haviam chamado outros cantores, inclusive Tim Maia, Simonal, Gerson King Combo… um monte de cantores e ninguém quis. Porque era um 5/4 sincopado, e as pessoas queriam movimento. Eu combinei com o Antônio Adolfo que, na segunda parte, ele iria dobrar, porque eu ia dançar, fazer uma coreografia nova. Sabia que era nova, porque ninguém fazia aquilo. Quando dobra a música e eu começo a dançar, a cara das pessoas!… Está aí nos filmes! Desculpe-me eu estar toda hora citando isso, mas é só para dizer que não estou inventando história. As pessoas espantadas: “O que quer é isso? O que que é isso?”.

Jamais posso esquecer esse dia no Maracanãzinho. Mas tivemos alguns problemas depois. Em 1971, teve outro festival internacional… e essa eu tenho que contar, porque foi muito importante o que aconteceu. E até hoje agradeço muito a essa pessoa que, infelizmente, já não está mais conosco. Ela era presidente do júri e, naquela época, a contagem dos votos era manual. E o show quem faria era a presidenta do júri: Elis Regina. Pimentinha! Que pessoa maravilhosa! E eu estava embaixo, porque eu havia vencido o festival anterior, era convidado, estava na plateia, nas primeiras filas. E a Elis começou a fazer o espetáculo. Cantou, cantou e, de repente, começou a cantar “Black is beautiful”, de Marcos e Paulo Sérgio Valle. Ah! A música dizia:

“Hoje cedo na rua do Ouvidor

Quantas louras horríveis eu vi

Eu quero um homem de cor

Um deus negro do Congo ou daqui…”

Eu pensei: “Sou eu” e subi no palco, levado não sei pelo quê. Até hoje, eu estou aqui pensando: “Como que foi aquilo? Por quê? Como que foi, o que que me levou a fazer aquilo?”. Subi no palco, ela cantando e levantei o punho do Black Panther. E aí, quando o meu pulso desceu, já desceu algemado. Essa foto existe, pode procurar que essa foto existe. A polícia me levando e a Elis falando: “Solta ele! Solta ele! Não pode ser! Essa música é em homenagem a ele”. Depois eu descobri – ele está vivo para provar – o Marcos Valle disse: “Tornado, é você. O black beautiful é você, que eu havia visto já em 1970 e fiz a música em cima”. Não sei porque fui levado por essa força interior, subi no palco, fiz esse gesto, fui preso e saí do Maracanãzinho algemado. Engraçado: apesar da truculência, tinha toda uma coisa bonita por trás. A polícia me levando e o público vaiando.

P: Eu queria falar um pouco dos dois discos, de 1971 e 1972, respectivamente. Você cantando para caramba com arranjos de Lyri oPanicali, Waltel Branco, Dom Salvador… Esses dois discos soam bastantes atuais. As músicas são incríveis! Fala um pouco desses discos. Tem alguma história importante dessa época?

T: Tenho. A “BR-3” foi lançada em 1971. Se você olhar direitinho, das 12 faixas, eu compus11. Inspirado, na época, levado pela emoção, não sei por quê. Dom Salvador foi o meu parceiro forte ali no primeiro disco. Aliás, nós fomos mandados embora juntos da Odeon. O Milton Miranda – lembrei agora o nome – era o diretor, disse:

— “Tornado, Dom Salvador: olhem, não é nada pessoal, eu adoro a música de vocês. Acontece que as pessoas estão reclamando que parece que esse movimento musical de vocês está difícil de eles acompanharem”.

Claro! Era uma coisa nova, estávamos trazendo Dom Salvador musicando e eu solfejando para ele. Porque eu só toco violão e mal. E o Dom Salvador é um gênio, até hoje está lá nos Estados Unidos. E eu cantava para o Dom Salvador, que escrevia, e nós fizemos um disco que reputo como um dos mais importantes. Mas eu sou suspeito. É bom que se diga: hoje estão gravando aí em 30, 40 canais; lá, eram dois! Dois canais!!! E eu cantava como se estivesse fazendo um show, gravando direto! Que fique bem claro isso. Não tem “Ah, vamos puxar no botãozinho”. Não tinha botãozinho. E não me dava o direito de desafinar, de achar uma tessitura, até um melisma era muito pouco, exatamente para não confundir. Porque nós não tínhamos tantos recursos como hoje. Desculpem os modernos, mas hoje eles gravam, e quando vão fazer um show você pensa: “Não é a mesma pessoa. O cara que está se apresentando no palco não tem nada a ver com o que canta no disco!”.

Recebemos Disco de Ouro. Eu, na época, estava em uma fase religiosa e disse: “Se Jesus fosse um homem de cor…” – e por aí afora. Aliás, “Se Jesus fosse um homem de cor” tem uma história não muito boa, porque a censura proibiu essa música. Agora, você vê: na época, não se podia falar: “Se Jesus fosse preto”.

P: Tem uma música do segundo disco:“Podes crer, amizade…”

T: Podes crer, amizade…

P: Que virou sucesso mundial, né?

T: Que balanção! Que swing!

P: E ela tem uma sonoridade assim que você pode dizer: “É o funk Brasil”.

T: É o funk Brasil. Exatamente.

P: Como que vocês elaboraram isso? Lembra como foi?

T: Toda quebrada, né? Tivemos problemas com os músicos. Exatamente o que o Milton falava: “Está muito quebrado, bicho. O tempo forte, vocês não têm; está no tempo fraco e tem músico reclamando, dizendo que não dá para acompanhar isso”. Claro, era uma coisa nova e eu sabia do perigo. Porque todo precursor sofre isso. Toda pessoa que inicia um movimento vai ter uns desacordos, coisas não tão compreensíveis, como foi a soul music. Eu já estava com essa ideia na cabeça. E me juntei com o Dom Salvador, até dormi na casa dele umas vezes, para bolar umas coisas. E ele dizia: “Tornado, aqui vamos fazer assim; mas do jeito que está fazendo vai ficar muito quebrado e vai complicar muito. Me deixa dar uma facilitada aqui”. E fomos asseclas, juntos até o final, até a hora de mandarem os dois embora. Saímos da Odeon quase que chutados. E hoje o Dom Salvador é uma referência.

P: E desse conjunto de experiências com a música, com as viagens, com a dança, surge o ator?

T: Na verdade, todo cantor é um ator em potencial. Porque não basta só cantar, você tem que ter o mise-en-scène, até um pouco de physique du rôle. Para ser um grande ator, você tem que ser musical. Tive essa facilidade, porque eu já tinha a música. Foi só dar umas costuradinhas aqui, outras ali. Hoje, vivo mais como ator. Ainda faço meus shows.

P: Você vê diferença entre ser ator para cinema ou TV? Teve que se adaptar? Hoje você faz mais TV, mas tem uma extensa trajetória no cinema. Percebe diferenças, ainda mais sendo um ator negro, aqui no Brasil, que é um país racista? Você foi um pioneiro, não é?

T: Praticamente sim. Um dia, estava conversando com um amigo e ele comentava que, agora, tem bastante negro na televisão. É, mas não esqueçam do início. Fiz a novela Roque Santeiro, na TV Globo, em 1985, eram mais de 120 atores e, acredite, só eu era negro. Um. Só eu. Pode rever a novela que vocês vão ver que não estou mentindo. Tivemos um avanço muito grande, graças a Deus. Hoje, toda vez que ligo a TV, vejo elencos com 10 ou 12 atores negros. E atores maravilhosos. É uma vitória! Claro que ainda não é o ideal, mas estamos bem encaminhados. Fico feliz de ter participado desse início. Já tivemos dissabores. Vou citar um, não vou deixar de citar, não. Sérgio Cardoso, um ator da Globo, branco, galã, maravilhoso, bonito… Na época, ele fez A Cabana do Pai Tomás e, acreditem, pintaram o Sérgio Cardoso de preto para fazer o Pai Tomás. Ele ficou negro. Essa é a realidade. Era um ator famoso, um dos melhores galãs da Globo. Eu já lá, lembro bem disso. Ele poderia, por vontade própria, até dizer: “Isso eu não faço, não é justo. Tem tantos atores negros maravilhosos…”. Na época, já tínhamos atores negros maravilhosos, Milton Gonçalves… Nada a ver comigo, mas atores negros maravilhosos que poderiam fazer o Pai Tomás. Por que vou me pintar para fazer um negro?–ele poderia ter pensado. Mas pintaram o Sérgio Cardoso e ele aceitou. Me preocupou a atitude dele, de ele ter aceitado. Mas, infelizmente, isso aconteceu. É uma história escabrosa.

P: Você foi o Rodésio em Roque Santeiro. Como foi a história dele?

T: Rodésio era a grande paixão da Viúva Porcina, interpretada pela Regina Duarte. Rodésio era apaixonado pela Viúva Porcina. A Globo deve ter gravado o final em que a Viúva a Porcina termina com o Rodésio. Faltou coragem a eles de fazer isso no meio da novela. Daí, não botaram esse final. Fizeram alguns finais. Aliás, era bem típico da época. Eu era casado na época com a Arlete Salles, é público e notório.A Arlete louríssima, linda e maravilhosa. Nós sofremos pressão o tempo inteiro. Um diretor da Globo, na época, nos deu duas passagens e disse: “Vocês vão embora do país, até amainar aqui, até ficar tudo bem. Porque o povo está falando”. Deixavam bilhete em nosso carro, do tipo “Negro, procure a sua turma, a sua tribo”. Ou “A Arlete quer ver a coisa preta”. Foi terrível, mas nós seguramos a barra. Hoje, estamos separados por outros motivos, não por isso. Ela seguiu o caminho dela, eu segui o meu. Mas eu a tenho aqui no coração o tempo inteiro, porque foi uma pessoa que lutou comigo, segurou a barra pesada que passamos, colocou a carreira dela em jogo. Era muito conceituada na Globo, correu todos os riscos comigo. E eu a tenho como uma pessoa maravilhosa. Salve Arlete Sales!

P: Fala-se muito em cinema negro, um movimento que nasce nos Estados Unidos. No Brasil, nos últimos 20 anos, começou a haver essa preocupação. Penso que a história do cinema negro no Brasil começa com Grande Otelo e segue com Tony Tornado. Fale sobre sua experiência no cinema. Qual o filme no qual você trabalhou e percebeu que foi uma experiência que trouxe, de fato, uma contribuição negra para o cinema, e não simplesmente a de fazer um papel? Aconteceu de você perceber que um papel que lhe foi oferecido iria ultrapassar os estereótipos?

T: Quilombo! [Cacá Diegues, 1984]Que dignidade, que personagens maravilhosos! Sou grato ao Cacá Diegues. Fiz uma série chamada Agosto, em que eu fazia o Gregório Fortunato, chefe da guarda pessoal do presidente Getúlio Vargas, um personagem digno. Como ator, tive trabalhos que me marcaram muito. Fiz outros: Tenda dos Milagres e alguns outros que enalteciam o negro. Tive muito orgulho de ter feito esses papéis, me senti lisonjeado, pelo prestígio, por terem acreditado que nós somos capazes. O negro só precisa disso: de uma chance para mostrar o seu valor. E eu acho que fiz um bom trabalho. Até na Sinhá Moça, em que eu fazia um capataz controverso, que era um negro liberto e dava pancadas nos negros. No final, ficou provado que ele batia porque ele achava que os negros não reagiam contra o sistema branco. Ele era fruto da chamada “Tríplice Aliança” (Brasil, Uruguai e Argentina contra o Paraguai), onde o senhor do Exército mandou um batalhão de negros para a guerra. O Exército não tinha soldo, mandaram os negros porque era de graça e prometeram que, quem voltasse, não seria mais escravo. Foi assim que nasceram os chamados “Voluntários da Pátria”. Os negros voltaram, não tinham outro meio de sobrevivência, passaram a ser os chamados “Capitães do Mato”, passaram a caçar os irmãos negros que fugiam. E até isso a História do Brasil conta de uma maneira muito cruel. Porque morreram muitos negros. Os “Capitães do Mato” eram como perdigueiros, conheciam os costumes dos negros. É uma história constrangedora, inclusive a situação da dignidade do ator Tony Tornado, de ter feito esse papel. Eu já tivera a experiência com o Sérgio Cardoso e pensei: “Se deixar vago, eles vão pintar outro branco. Então, preciso fazer e bem”. E me parece que fiz bem, porque marcou muito. A mim e os meus bens: meu carro vivia arranhado e me diziam nas ruas: “Você só bate nos negros”. Me deixaram até um pouco feliz, porque pensei: “O personagem está agradando, porque as pessoas estão acreditando”.

P: Você está sendo homenageado pela CineOP, Festival de Cinema de Ouro Preto. Ouro Preto hoje é uma cidade simbólica do ponto de vista do negro…

T: Ouro Preto tem alguma coisa a ver com Chico Rei?

H: Tem. [Nota do editor: Chico Reiera Rei do Congo, acabou capturado com a família por portugueses e enviado ao Brasil para ser vendido como escravo. Durante o trajeto, sua mulher, a Rainha Djalô, e a filha, Princesa Itulo, foram lançadas ao mar. Por sua devoção a Nossa Senhora do Rosário dos Pretos e a Santa Efigênia, construiu, com outros negros, em Vila Rica, uma igreja dedicada à família, no ano de 1785].

T: O que acontece é que Ouro Preto tem uma importância histórica, que eu gosto muito. Fui, inclusive, cogitado para fazer a vida de Chico Rei, que, todo mundo sabe, foi um negro que revolucionou o tráfico de ouro, das minas etc. Ele tem grande relevância nisso. Não fiz esse filme, fiquei frustrado por não ter feito. Eu conhecia a história, mas escolheram outro ator. Quanto ao cinema, fiz alguns filmes, não fiz tantos quanto faço de TV, mas os filmes que fiz foram todos muito significativos. Até as chamadas bandalhas do Centro de São Paulo, trabalhei em muitos filmes na Boca do Lixo. Fiz com o Tony Vieira, com o Jean Garrett… E eu fiz Pixote, pouca gente sabe.

H: Como que foi a experiência de fazer Pixote, um filme que teve um alcance mundial?

T: Teve um alcance mundial, porque é um filme sério. E tem pouca gente do elenco para contar as histórias, porque morreram alguns. O próprio Pixote morreu. É um filme interessante, um filme sério. A seriedade da história em torno dessa dificuldade do chamado menor abandonado. Um relato do que acontece nos institutos de correção para menores. Foram filmes que fiz com muita seriedade, principalmente pela direção. Aprendi muito com o cinema. Infelizmente, exatamente fascinado pelo outro mundo, o mundo da televisão, fiz pouco cinema. Uma arte que nem se compara. A televisão, chamamos de “fábrica de linguiça”, uma coisa para ser logo deglutida. O cinema, não. O cinema é mais trabalhado. Pessoalmente, gosto mais de cinema.

P: Por que você acha que, nos últimos anos, tem sido convidado para fazer mais comédias, inclusive nas novelas? Você se sente um ator de comédia?

T: É muito difícil fazer comédia. Não tenho o tempo da comédia, porque não sou o chamado grande comediante. Sou participativo, claro. Não sei se é por conta do tipo físico, que o povo não está muito acostumado com meu tipo físico, não é? Sempre acham fora dos padrões, um baita negão assim… Estou fazendo um padre agora, na novela Amor Perfeito. Está sendo uma experiência maravilhosa. E olha que eu já fiz de tudo: ladrão, fiz assassino. E nunca tinha feito um padre. Estou gostando de fazer esse Padre Tomé. A novela é interessante, fala da juventude do garoto, é baseada na história do Marcelino, Pão e Vinho. E a Duca Rachid, excelente pesquisadora, conseguiu construir um enredo maravilhoso e a novela está dando certo. Só tem uma coisa da qual eu não abro mão: a minha dignidade de ator. Nunca rejeitei personagem. Prefiro fazer um mordomo bem-feito do que um conde malfeito. Não sou eu quem escala, mas eu gostaria – quem sabe? – de fazer Otelo. Por que não? Mas vamos chegar lá. Um dia vamos chegar lá!

P: De onde surgiu esse nome genial: Tony Tornado? Porque você, no palco, parecia um tornado mesmo?

T: É, eu parecia um tornado.

H: Mas quem foi que deu a você esse nome artístico?

T: Mariozinho Rocha. Tony já era do Antônio. Só um pedacinho da minha vida de família. E esse Tornado, o Mariozinho sacou, porque disse que eu dançava feito um furacão, feito um tornado e disse: “Vamos aproveitar o Tony e colocamos o Tornado e ver como que fica”. E fizemos uma pesquisa dentro do próprio edifício da Odeon. Uma semana depois, fomos na portaria e perguntamos: “Como é mesmo o nome do cara que a gente pediu para você avisar?” E ele: “Não sei o que lá Tornado”. Quer dizer: Tornado era um nome forte. E ficamos com o nome de Tony Tornado. Agradeço ao Mariozinho Rocha a genialidade de ter sacado isso.

P: Muito obrigado, Tony! Uma honra e um prazer trocar uma ideia com você…

T: Nunca me fizeram uma homenagem dessas. Não sou muito chegado a homenagens, fica parecendo que é uma coisa arrumada. Mas fiquei feliz em saber que vocês pesquisaram a minha vida, o meu trabalho e me concederam essa honraria. Fico, sinceramente, lisonjeado, sem palavras. Não estou acostumado. Vocês estão me fazendo essa homenagem, fico muito agradecido. E isso tudo me deixa muito emotivo. Deu para notar que sou muito emotivo? Fico meio sem jeito quando a coisa é assim com relação a mim. Porque eu não faço nada com a intenção de ser do agrado geral. Faço para agradar a mim. Essa é a minha história, a minha realidade. Quero aproveitar para deixar minha mensagem de paz e amor: “Quando duas mãos se encontram, refletem no chão a sombra da mesma cor”!

Entrevista concedida por Tony Tornado ao crítico de cinema Bernardo Oliveira ,a pedido da Universo Produção, maio de 2023, Rio de Janeiro.

Entrevista e sessão de fotos realizadas no Rio Scenarium (@rioscenarium) – espaço gentilmente cedido. Registramos nossos agradecimentos atoda a equipe.Registros fotográfico e videográfico: Leo Lara