Até 27 de junho a 13 de julho, um recorte especial da 20ª CineOP – Mostra de Cinema de Ouro Preto está disponível na plataforma Itaú Cultural Play.

ALINHAVAR O FIO DA MEMÓRIA

 A programação da plataforma Itaú Cultural Play apresenta um recorte dos curtas-metragens da Mostra Contemporânea e da Mostra Histórica, selecionados para a 20ª edição da CineOP.

A Mostra Histórica desta edição propõe uma incursão no Humor das Mulheres no Cinema Brasileiro. Com uma programação enxuta, mas expressivamente heterogênea, buscou-se escancarar as diversas formas de se elaborar o riso feminino, à frente e atrás das câmeras. Priorizando filmes dirigidos e protagonizados por mulheres, a Mostra não almeja delimitar noções muito rígidas do cômico, nem essencializar perspectivas autorais. Afinal, humor implica alguma dose de descontrole: para encontrar graça, é preciso subverter práticas curatoriais.

O contraste e a dissonância são bem-vindos, como percebemos pela discrepância entre os dois curtas que integrarão o catálogo da plataforma. A Origem dos Bebês segundo Kiki Cavalcanti (1995) é uma comédia do acidente e do absurdo de Anna Muylaert, representativa de outros filmes produzidos nas décadas de 1980 e 1990 por uma certa geração de realizadoras. Já o teatral Alfazema (2019), de Sabrina Fidalgo, opera numa chave mais sutil, integrando um corpo fílmico contemporâneo que, nas margens de um cinema de humor comercial, pensa, debochadamente, sobre o próprio ato de filmar e representar.

A curadoria de curtas da Mostra Contemporânea propõe um panorama de filmes que fazem uso das imagens de arquivo e experimentam procedimentos formais diversos em torno da memória e do passado.

O documentário paraibano A Nave que Nunca Pousa, dirigido por Ellen Morais, flerta com a ficção científica ao observar o cotidiano de uma comunidade quilombola no Sertão da Paraíba que convive com a instalação de usinas eólicas. Afluente surgiu da pesquisa de doutorado do realizador Fred Benevides, na Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Montado com diferentes materiais, como fotos, cinejornais em película, registros contemporâneos em 16mm, Super-8 e em formatos digitais, o curta reinterpreta o processo de eletrificação das águas do Rio São Francisco, a partir de um olhar crítico para o arquivo fílmico disponível sobre o assunto.

Os planos fixos que revelam diferentes espaços de uma escola abandonada no interior de Santa Catarina costuram o documentário O que Fica, com direção da dupla Daniel Edu Mayer e Fabiane Bardemaker Batista. Do Ceará, os realizadores Samuel Brasileiro e Natália Maia dirigem o documentário Fortaleza Liberta, que investiga a história do quadro homônimo, guardado no Museu do Ceará, em Fortaleza, e de suas controversas leituras da representação do dia da abolição da escravatura em 1883.

 Dirigido por Thais Helena Leite, o documentário capixaba Suá, a Praia que Sumiu desconstrói a narrativa oficial de exaltação do progresso em torno do aterramento de uma praia, em Vitória, nos anos 1970, com forte presença de pescadores guardiões de manifestações culturais tradicionais. Imagens raras de Luís Carlos Prestes e sua eleição como senador pelo Partido Comunista Brasileiro (PCB) compõem Um Breve Respiro Democrático, dirigido por Rafael de Luna Freire, com restauro do Laboratório Universitário de Preservação Audiovisual (Lupa) da Universidade Federal Fluminense (UFF).

Cleber Eduardo, Juliana Gusman
Curadores Mostra Histórica

Camila Vieira
Curadora de curtas Mostra Contemporânea