Infâncias e juventudes nômades

Dançar, caminhar, correr, pular, girar, voar, atravessar, deslocar –são muitos os verbos que podem nomear algumas das tantas ações e gestos materializados nos filmes que compõem a Mostra Educação da 18ª CineOP. A Mostra apresenta um panorama dos trabalhos que têm como centro a ideia de deslocamento em suas dimensões espaciais, temporais, de posicionamentos e pontos de vista, assim como os próprios deslocamentos entre a educação e o cinema. A imensa variedade de propostas, de diferentes regiões do Brasil, além de animações produzidas em oficinas de audiovisual na Colômbia, vários formatos e gêneros, impôs um difícil arranjo, que neste ano acabou se orientando por uma divisão baseada na “etapa” da vida estudantil. Embora saibamos que os conceitos de infância e juventude são complexos e por vezes constrangem a subjetividade em função de uma linearidade cronológica, aqui, entretanto, nos foi útil para dispor os filmes que evidenciam em suas tramas os corpos de crianças e adolescentes ou que as têm como principal interlocutor.

Nesse sentido, a Mostra Educaçãose divide em duas sessões. Na primeira, Infâncias, damos lugar a trabalhos que não apenas apresentam crianças em suas múltiplas interações com os aparatos de captação de imagem e som. Em sua maioria, os trabalhos nos convidam a nos posicionarmos a partir do ponto de onde a criança vê, ouve e sente o mundo. Assim, ao ocupar tal posição, a câmera nos permite ver as múltiplas interações entre as crianças e o espaço escolar. Os enquadramentos, ângulos, cortes parecem ser pouco submetidos às convenções da linguagem cinematográfica, divergindo do que uma boa norma do cinema preconiza. Conforme elabora Fernand Deligny, são gestos que “cameram” o mundo e nos comunicam os afetos do mundo infantil, portanto dizem mais respeito às intensidades, aos ritmos, balanços, corridas e giros dos corposcomcâmeras, do que propriamente às histórias e aos temas. Filmes que tendem a uma dimensão mais física do cinema e a um território que se produz no encontro com as crianças. Ainda na sessão Infâncias, também apresentamos filmes que possuem uma vocação mais didática, à medida que apresentam questões e temas relevantes para o debate público, como o meio ambiente e a diversidade, por exemplo, explorados por meiode diferentes recursos cinematográficos, com ênfase na animação.

A segunda sessão, Juventudes, nos situa em relação aos temas e questões que atravessam a geração de adolescentes na contemporaneidade, marcados pela pandemia, a hiperutilização das redes sociais e o crescente quadro de sofrimento psíquico. A sessão também pode ser compreendida a partir de dois gestos: no primeiro deles, assistimos a filmes que narram, por meio de histórias autoficcionalizadaspelos próprios estudantes ou professores, conflitos ligados ao gênero, à raça, à saúde mental. Os filmes, de curta duração, abordam tensões e conflitos e buscam, à sua maneira, formas de superação ou denúncia. No outro gesto, temos os trabalhos que promovem um deslocamento com as formas rotineiras de percepção do cotidiano, do corpo, do espaço. Os deslocamentos realizados se valem de estratégias próprias ao cinema documental e experimental, com o uso de efeitos, colagens e truques de montagem, contrapontos entre som e imagem etc. São filmes que nos interpelam a sentir, ver, ouvir, em suma, a perceber e fruir o mundo a partir da mediação do cinema e, assim, deslocam nossos próprios sentidos.

Coordenação Rede Kino 2022-2023
Clarisse Alvarenga
Débora Nakache
Fernanda Omelczuk
Gustavo Jardim
Isaac Pipano
Wenceslao Oliveira Jr.

SESSÃO INFÂNCIAS

SESSÃO JUVENTUDES

SESSÃO ALEXANDRA CUESTA

SESSÃO CAROLINA DORADO LOZANO

SÉRIE PAULO FREIRE