“FAZER COMÉDIA EXIGE CORAGEM E AUTENTICIDADE”, AFIRMA MARISA ORTH
Publicado em 27 jun 2025No final da manhã de quinta-feira, 26/6, a atriz homenageada da 20ª CineOP – Mostra de Cinema de Ouro Preto, Marisa Orth, encantou a plateia que lotou o hall do Centro de Convenções numa roda de conversa mediada pelo curador Cleber Eduardo.
Com trajetória de 42 anos marcada por papéis icônicos como a Magda da série “Sai de Baixo”, a atriz abriu a conversa destacando a essência da comédia brasileira, que, para ela, nasce da mistura única de humor e drama, o que reflete a própria realidade do país. Ela citou influências de grupos teatrais, como Asdrúbal Trouxe o Trombone, que moldaram sua formação.
“No palco, se estou rindo, você está chorando na plateia; eu chorando, você rindo. Essa mistura é a cara da dramaturgia nacional”, afirmou, enfatizando como essa dinâmica captura a complexidade emocional do Brasil.
O humor brasileiro, segundo ela, tem raízes na adversidade, uma característica que ela vê como própria do cenário local. Ela destacou a tradição cômica do cinema nacional, desde estúdios da Cinédia da Atlântida, até produções contemporâneas, que transformam injustiças e dificuldades em riso. “Aqui é um país socialmente injusto, tem desgraça, impunidade, violência. Mas a piada surge em seis minutos após uma tragédia. Isso é o Brasil”, disse, apontando para a rapidez com que o humor pode reagir a adversidades e se transformar em crítica social.
Orth abordou as tensões atuais em torno do humor, especialmente no contexto do politicamente correto e das discussões sobre lugar de fala, e defendeu a comédia como ferramenta de crítica inteligente, capaz de expor verdades incômodas. “O humor é arma. Ele aponta que o rei está nu, e eu sou o menino que diz isso”, disse.
Ela questionou as restrições colocadas a determinadas representações no humor e destacou a importância de personagens como Magda, que satirizam estereótipos com profundidade e ironia.
O papel, um marco em sua carreira, foi lembrado com carinho. Orth refletiu sobre como a personagem, uma mulher fútil e desavisada, ainda ressoa como crítica social, mesmo diante de debates sobre representatividade. “Imagina a Magda como primeira-dama na última gestão presidencial… Hoje ela seria coach, subindo o morro!”, brincou, arrancando risos da plateia e refletindo a atemporalidade de sua maior criação.
Orth também compartilhou reflexões pessoais sobre sua carreira e admitiu se arrepender de, em alguns momentos, ter dado ouvidos a críticas desnecessárias sobre sua trajetória. A atriz incentivou a nova geração de artistas a seguirem seus instintos. “Depois de 42 anos, aprendi que não devo dar bola para certas opiniões. A comédia exige coragem e autenticidade”, disse.